Prazer, Fabíula!
Prazer, Fabíula!
Se eu fosse me apresentar a você, gostaria de começar dizendo que sou mineira. Que estudei publicidade e marketing. Que maio é meu mês favorito do ano, só porque foi o mês em que nasci em 1993. Diria ainda que tenho um volume de cabelo que poderia preencher pelo menos quatro cabeças. Que sempre gostei de cachorros, mas com os anos aprendi a amar igualmente (ou mais) os gatos.
Por fim, seria muito importante que soubesse que Deus é o que há de melhor em mim.
E não gostaria que soubesse sobre os anos em que convivi com a depressão. Nem sobre os cabelos brancos que arranco diariamente, mesmo sabendo que não devia. Tampouco a história de ter perdido quase tudo o que construí, o que me forçou a recomeçar a vida. E que sou intolerante à lactose, mas que me condeno a comer algo com leite toda semana, aceitando o arrependimento como parte do ritual.
Prazer! Essa, com todos os bônus indesejados, se tornou a minha apresentação para você.
Em conversa com minha professora de português favorita da vida, após a aula em que a mesma explicou para a classe o gênero fábula, eu disse com admiração que era quase meu nome. Fiz ainda questão de explicar, caso não tivesse ficado suficientemente claro: basta acrescentar o "i" do meu nome e mover o acento do "a". Maria, como ótima professora, recebeu atenta o que eu dizia, e desde aquele dia (presumo eu, já que nunca a perguntei quando exatamente), decidiu acompanhar mais de perto meu interesse por leitura e escrita.
Essa cena realmente aconteceu. Mas ela explica algo mais sobre eu me apresentar como FABULADORA. Não é somente pelas letras que coincidem entre meu nome e Fábula (como percebeu a jovem Fabíula), mas especialmente pelo gosto de contar histórias - e provavelmente a parte mais envolvedora delas.
No significado literal, fabulador é aquele que conta ou cria fábulas. Deriva do latim "fabulator", que significa "narrador". Mas também um inventor de tipos e situações que beiram a fronteira entre sonho e realidade - em outras palavras, um mentiroso. Eu não gosto de mentiras, reconheço os prejuízos que elas causam, então, como posso escolher, prefiro não mentir e me identifico com o primeiro significado de fabulador, o sobre contar histórias.
Por outro lado, reconheço que a escrita é um processo fabulatório que por diversas vezes nos instiga a produzir através de uma invenção. Clarice Lispector disse que antes de aprender a ler e a escrever, ela já fabulava. Gilles Deleuze, um filósofo francês, também disse que não há literatura sem fabulação. Me identifico com ambas as afirmações.
Não me recordo de momentos da minha vida em que não fui FABULADORA. A diferença está apenas em que em alguns momentos eu escrevi, em outros atravessei os acontecimentos sem relatá-los através da escrita. Mas em ambos fabulando.
Com os anos percebi que o meu encontro com a professora Maria, de fato reforçou o meu interesse pela leitura e, posteriormente pela escrita. Mas a verdade é que visto de outro ângulo, naquele momento, ambas fomos atravessadas por uma nova história, arrastadas pelo simples acontecimento da explicação sobre a semelhança entre fábula e meu nome. Fiz parte da fábula de Maria. Assim como ela fez (e ainda faz) parte da minha.
Narrar é existir. Fabulo, logo existo.